Prevenção para o futuro é um item que deve estar na agenda de todos nós, fazendo dessa questão, ao menos em essência, neutra em relação a sexo. Todos, sem exceção, deveriam estar investindo para o futuro. Mas há certas coisas que são muito específicas ao grupo feminino, e que fazem com que as mulheres precisem encarar a questão previdenciária sob uma ótica diferente da dos homens.
Vejamos alguns desses motivos:
- A primeira questão é biológica. Por motivos que a ciência ainda está tentando explicar, as mulheres vivem mais do que os homens. A expectativa de vida ao nascer, do homem brasileiro, é de 68,2 anos. Já a brasileira que nasceu em 2005 poderá esperar viver 75,8 anos, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Quase oito anos a mais. Quem vive oito anos a mais, em média, precisará de mais dinheiro. É bem óbvio isso. Qualquer plano de previdência para a mulher precisará levar isso em conta. E não é pouco dinheiro! Para se ter uma idéia, calcule quanto você ganha (ou gasta) por ano e multiplique por oito. E não pense que a pessoa idosa precisa de menos dinheiro. Isso é um mito! Vivendo até uma idade avançada, geralmente sozinha ao que parece, a mulher precisará de dinheiro não apenas para viver ou se divertir. Haverá aumento de gastos com médicos, acompanhantes e remédios.
A falta de tempo nem sempre permite que a mulher invista em produtos financeiros de maior risco que exijam uma vigilância permanente, como acontece com o mercado acionário, em alguns casos, ou o mercado de opções, sempre
- A segunda questão é econômica. As mulheres, na atual conjuntura, ganham menos do que os homens. Quando empregadas, ganham, em média, 30% a menos do que os homens brasileiros. Esses 30% a menos têm um efeito cumulativo perverso. Ganhando menos é mais difícil poupar. Veja a interessante pesquisa realizada pelo Departamento de Trabalho dos EUA: uma mulher americana de 25 anos hoje, com um diploma universitário, receberá ao longo da sua vida cerca de 523.000 dólares a menos do que um universitário homem. Considerando o valor do dinheiro, capitalizado ao longo do tempo, significará uma fortuna perdida. Nos EUA, a diferença salarial é de cerca de 20%. No Brasil, quanto mais a mulher estuda maior, a diferença. Segundo o IBGE, a diferença é de 58% quando são analisadas as pessoas com mais de 11 anos de estudo. Portanto, o efeito cumulativo aqui é ainda pior. Não dá para bobear. Se a previdência privada é importante para os homens, ela assume uma importância ainda maior para a mulher que ganha menos e vive mais.
- A terceira, além de econômica, é também cultural. Teresa Heinz Kerry, presidente da Heinz Family Philanthropies, fundadora do Instituto de Mulheres para uma Aposentadoria Segura, explica isso. Lembrando que quase sempre recai sobre as mulheres os cuidados com as crianças e os idosos, ela diz: "Os custos de cuidar dos pais, avós, filhos (não raro adultos) e netos estão fazendo com que a aposentadoria da mulher seja um mito e não uma realidade".
A questão previdenciária está intimamente ligada ao trabalho (de carteira assinada, ininterrupto, de período integral). Assim funcionam, primordialmente, a previdência oficial e os fundos de pensão. As mulheres enfrentam séria dificuldade para empregar-se nesse tipo tradicional de mercado. Como conseqüência, a previdência privada acaba assumindo uma importância ainda maior para elas.
- A quarta questão - que, além de cultural, é também social - é a falta de tempo. Essa falta é sinal dos tempos, sem dúvida. E assola a agenda e o calendário de muita gente, seja de qual sexo for. Mas, no que se refere às mulheres, isso é, segundo as pesquisas, ainda mais grave. As mulheres possuem múltiplas e intensas jornadas. Quatro pelo menos: trabalho, educação continuada, família e culto à beleza. A jornada com a família - casa, filhos e solidariedade aos idosos - toma muitas horas da vida da mulher. Além de ser responsável pela quase totalidade das compras da família (supermercado, roupas, móveis, remédios), a mulher brasileira consome, segundo a Fundação Perseu Abramo, 42 horas da sua semana com afazeres domésticos, contra apenas seis do seu parceiro, que utiliza essas horas principalmente para lavar e cuidar do seu carro. Parece incrível, mas isso faz uma diferença enorme no tempo que poderia ser dedicado a outras coisas.
Com relação ao culto ao corpo, segundo um estudo realizado em Londres, as mulheres gastam, em média, três anos de suas vidas se embelezando, enquanto os homens gastam apenas três meses. Esse estudo avaliou uma saída semanal em que a mulher consome, em média, uma hora e doze minutos para se preparar. Mais precisamente: 22 minutos para se lavar, 7 para passar cremes e loções, 23 para arrumar os cabelos, 14 para se maquiar e 6 para se vestir. Se forem duas saídas então, acrescente-se 10 meses no decorrer da vida. Ainda que pareça estranha, essa realidade não pode ser desconsiderada. E nem vamos mencionar o que acontece de manhã para ir ao trabalho ou o tempo gasto em cabeleireiros, na escolha de roupas, nos tratamentos de beleza, nas academias. A falta de tempo nem sempre permite que a mulher invista em produtos financeiros de maior risco que exijam uma vigilância permanente, como acontece com o mercado acionário, em alguns casos, ou o mercado de opções, sempre.
Por isso elas acabam preferindo os produtos financeiros de longo prazo, como os VGBLs ou PGBLs, que funcionam como fundos que são administrados por gestores de instituições financeiras. Além disso, recebem boletos de pagamento que, alegam elas, facilitam a vida criando uma rotina, quase compulsória, de pagamentos.