A infidelidade é diferente para homens e mulheres
O quão culpado você sente com a possibilidade de trair seu parceiro? Foi com essa pergunta em mente que psicólogos das universidades de Halifax e de Toronto no Canadá e da Universidade de Viena, na Áustria, conduziram um interessante estudo envolvendo 66 mulheres e 65 homens com idade média em torno dos 28 anos, todos canadenses. A questão da culpa era a variável mais relevante, já que até o momento os estudos da psicologia evolucionária sempre abordaram o ciúme que a pulada de cerca gera. A culpa é o mecanismo central para um comportamento responsável, e serve como um alerta em relação às ações de uma pessoa serem inaceitáveis para seu parceiro ou grupo social. Culpa também é inversamente proporcional à intenção, ou seja, quanto mais intencional for o ato, menor a culpa.
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Os estudiosos separaram a traição em duas categorias básicas: a física, onde o ato sexual de fato é o mais importante, e a emocional, onde existe sentimento de amor ou paixão envolvido, sem necessariamente ocorrer o ato sexual. O resultado final é que homens se sentem mais culpados quando protagonizam a traição física, enquanto nas mulheres o peso na consciência é maior quando ocorre uma infidelidade emocional. Na verdade os pesquisadores esperavam uma resposta inversa, onde homens estariam se preocupando mais com a traição emocional, uma vez que a predisposição masculina para sexo é inerente a esse universo. Já a mulher estariam preocupadas com a física, já que sabem o quanto elas afetam os homens.
E porque os pesquisadores erraram em suas hipóteses? Segundo o estudo, homens no geral tendem a dar mais valor aos aspectos sexuais de seu relacionamento, enquanto as mulheres costumam superlativar a questão emocional. Ambos os lados projetam seus próprios valores éticos no parceiro, enquanto na verdade, eles são bastante distintos.
Essa valorização de duas perspectivas diferentes na relação do casal também se reflete na hora de perdoar uma traição. Para os dois sexos uma traição física é difícil de engolir, mas para as mulheres pesquisadas o relacionamento tem uma chance muito maior de chegar ao fim se elas descobrirem que o parceiro está dormindo com outra pessoa. Maior até do que se ele estiver emocionalmente envolvido coma um terceira.
O grande viés do estudo, publicado na revista Evolutionary Psichology, é que as pessoas entrevistadas não estavam obrigatoriamente envolvidas com alguém e também não confessaram se já haviam traído ou não - o que não invalida a tentativa de entender melhor um assunto tão combustível.
No Brasil, as opiniões se dividem
Ana Paula Barros, empresária de 39 anos, nunca passou pela experiência de saber de uma traição, mas afirmou ao Terra que perdoaria uma. ¿Claro que não seria a coisa mais fácil do mundo e haveria mágoa, mas perdoaria com certeza. Eu não abriria mão do homem que eu amo por causa de um deslize dele¿. A coisa muda, porém, se ele estivesse envolvido emocionalmente com a pessoa. "Nesse caso não acho que cabe perdoar ou não, mas compreender, aceitar e esquecer. Perdoar um sexo casual é uma coisa, mas se ele se envolveu, se gostou e houve sentimento, é diferente. Não sei se eu conseguiria compreender e aceitar uma traição nesse caso. Provavelmente o relacionamento acabaria."
Daniele Schupp, carioca de 40 anos, perdoou alguns deslizes de seu ex-marido, mas quando ele se envolveu sentimentalmente com outra pessoa foi a primeira a desejar-lhe sorte e felicidade na nova empreitada. "Quando ele se apaixonou mesmo, nós já tínhamos uma relação mais de amizade do que de marido e mulher. E as coisas não aconteceram de propósito, ele não procurou me trair, aconteceu. Dei a maior força para ele voltar para a Holanda (seu país de origem) e viver o seu grande amor. Se eu não tivesse feito isso, seria por puro capricho, por egoísmo total." Essa maturidade acabou levando as duas, ex-esposa e amante, a se tornarem amigas íntimas depois da morte do ex-marido e até hoje se encontram uma vez por ano.
Marcelo Vaz, engenheiro agrônomo de 43 anos, já foi traído e acabou perdoando. Mas em uma outra situação, e já ao lado de outra pessoa, Marcelo teve uma noite de sexo casual, se sentiu mal e acabou contando. "Dancei, nesse caso", diz ele. Mauro Suannes, economista de 40 anos, já é mais categórico em sua opinião: "Eu não perdoaria nenhum dos dois casos. Se for sexo casual pode parecer que o sexo comigo não está bom, então não adiantaria eu perdoar e ela voltar pra mim. Se tiver envolvimento emocional, pior ainda, pois poderia levá-la a continuar pensando na outra pessoa, mesmo estando comigo." Patrícia Scheuermann, 39 anos, concorda. "Para mim, seria impossível manter um relacionamento onde a sombra de uma traição, mesmo que "apenas" sexual, estivesse presente. Como saber se esse tipo de traição não viraria um hábito?"
Talvez a melhor maneira de evitar a infidelidade é manter o diálogo sempre aberto. Pelo menos é o que acredita Mauro Suannes. "Se algo está ruim no relacionamento é melhor conversar com a parceira, pois traí-la não resolve os problemas do casal." Mesmo porque algumas reações a uma pulada de cerca podem ser mais explosivas que outras e deixar marcas piores que a culpa, como Luciana D. Vedove, 35 anos, deixa bem claro. "Ele teria que se dar por feliz por eu deixar que ele continuasse a manter seu órgão sexual depois de uma traição." E aí? Vai arriscar?