por Eliana Bussinger
Não é raro que as mulheres não percebam que estão em risco quando o assunto é finanças.
Para quem está na área há tanto tempo, como é o meu caso, não é difícil fazer uma rápida lista de categorias de mulheres que estão em sério risco financeiro.
Essas mulheres, além do possível estresse financeiro presente, estão com seus futuros seriamente ameaçados. Algumas delas estão em negação, outras possuem uma certa ilusão de controle, mas que no fundo está longe de ser duradouro, outras ainda administram apenas o dia seguinte, sem ousar pensar que o futuro existe e chega. A algumas outras simplesmente não sobrou opção alguma, a não ser essa mesma, a de viver um dia de cada vez. Poderíamos alegar que homens também estão em risco financeiro e obviamente isso é verdade. Mas as razões e as raízes dessa vulnerabilidade também são claramente diferentes.
Grupos de mulheres em risco financeiro
As mulheres que compõem os grupos a seguir são aquelas que a meu ver, estão correndo o mais sério risco financeiro:
1º) As idosas que estão sozinhas – ou ficarão sozinhas em algum momento por divórcio ou morte – e que sempre viveram em lares onde apenas os maridos trabalhavam ou tomavam conta das questões financeiras da família.
2º) No outro extremo, as mulheres que são muito jovens e que não terão apoio para a criação de seus filhos. Milhões de brasileirinhas já estão nessa situação. Há um ditado africano que diz “Para educar uma criança é preciso uma tribo inteira”. Bem, aqui, desse nosso lado do oceano, a sociedade está achando que para educar um, dois ou três filhos basta uma mãe. Apoio não vem dos homens, nem da sociedade, muito menos do governo. Mas esse polêmico assunto também exige uma “tribo” inteira para ser discutido. Não cabe no nosso curto artigo. Basta saber por agora, que criar um filho exige tempo, energia e dinheiro. Muito dinheiro. O que provavelmente a maioria dessas garotas não terá, portanto elas estão em risco financeiro.
3º) As donas de casa que nunca tiveram contato com o sistema financeiro. Mais e mais mulheres estão ingressando no mercado de trabalho, é verdade. Mas muitas delas ainda dependem financeiramente de seus companheiros. Com o aumento da taxa de divórcio, essas mulheres correm sério risco financeiro. Se tiverem que ingressar repentinamente no mercado de trabalho não terão qualificação necessária para garantir qualidade de vida. E, ainda que permaneçam casadas, seu futuro dependerá muito da habilidade financeira de outra pessoa. Tudo pode dar certo, mas também pode dar tudo errado! Esse é o risco de depender financeiramente de outra pessoa.
4º) As mulheres que sofrem violência física, moral ou patrimonial. Outro assunto imensamente polêmico. Ainda assim, aí está. Quem dúvida que essas mulheres estão em sério risco financeiro? Estão! Indubitavelmente!
5º) As mulheres, em geral, que não conseguem manter-se no mercado de trabalho de uma maneira constante e segura. Trata-se das mulheres que perdem seus empregos, que saem temporariamente para cuidar dos filhos ou dos pais idosos ou que estão no mercado informal. O maior problema aqui (entre outros, óbvio) é a formação da poupança para a aposentadoria, seja através da previdência oficial, seja privada. Sem constância a aposentadoria nunca vai se tornar uma realidade.
6º) As mulheres não “bancarizadas”. Entenda-se por bancarização não apenas possuir uma conta corrente ou de poupança, mas em um sentido bem mais amplo – aquele de utilização consciente dos produtos financeiros que são oferecidos pelo sistema. Não é novidade para quem me conhece o fato de eu considerar o sistema financeiro de hoje um parceiro em nossas vidas – portador dos nossos futuros. Podemos criticar o sistema? Claro, fique à vontade! Também critico quando é preciso. Mas por falta de outra coisa, preste atenção, quem paga juros sobre o seu dinheiro são eles, ninguém mais. Portanto, guardar dinheiro em casa, está fora de questão. Tratarei dessa questão em outros artigos. É uma discussão que realmente vale a pena.
7º) Também correm sério risco financeiro as mulheres que ainda acreditam que amor e dinheiro são assuntos diametralmente opostos. Estar presa ao ideal romântico da cara-metade, do príncipe encantado que vai resgatá-la dos maus bocados, é ainda um sonho, que pode virar o maior pesadelo de muitas mulheres.
Evidentemente há muitos outros casos de mulheres em risco. Há até mesmo aqueles que nunca se tornarão visíveis a ponto de eu poder localizá-las.
A verdade é que quem examina sob a perspectiva de futuro o imenso grupo formado por quase cem milhões de brasileiras, não consegue formar um cenário com céu de brigadeiro.
Há muito a ser feito em se tratando de duas barreiras que as mulheres ainda não conseguiram superar: a financeira e a política. Dois mundos preponderantemente marcianos. É onde os avanços ocorrem a passos muito mais lentos do que em outras áreas da sociedade.
Bem, convenhamos, todos esses assuntos que tratei dão muito pano pra manga. Eles exigem discussão mais detalhada porque, afinal, são mais do que simples preocupações da articulista, são questões fundamentadas em estudos e estatísticas e que, portanto, mereceriam atenção e cuidado na mesma proporção da sua seriedade.