Você está super a fim do cara: ele é bonito, tem bom papo, humor refinado e, ainda por cima, parece 100% na sua. Aí, no meio de uma conversa, você descobre que ele gosta de meninos e meninas - ou seja, é bissexual. Imediatamente você pensa: "Humm, que delícia, vou me dar bem" ou "ai, que droga, vou cair fora"?
"Deus me livre" foi a reação da jornalista Caroline G., 30, assim que soube que o ficante jogava nos dois lados. "Só de imaginar ele beijando e fazendo outras coisas com um homem sinto náuseas", revela a jornalista, que não conseguiu ficar com o rapaz de novo. Ela garante que não se trata de preconceito. "Perdi o tesão. Na nossa sociedade, mulher com mulher é mais bem aceito, quase um fetiche. Mas homem com homem é feio de se ver, não gosto", admite, dizendo que nunca se sentiria segura ao lado de um homem que fosse bissexual.
Na nossa cultura é difícil conceituar a idéia de que uma pessoa pode desejar, indistintamente, mulheres e homens
Para algumas mulheres, descobrir que o rapaz é bi não significa impedimento. Segundo elas, a relação tende a ser cheia de descobertas. A atriz Tatiana R. tem 31 anos e já ficou com vários caras declaradamente bissexuais. "Adoro! Eles têm a mente aberta e são ótimos de cama: sensíveis, gostosos", conta a produtora, que nunca chegou a namorar um deles. "Mas namoraria, não veria problema nenhum nisso", garante ela que só não aconselha tentar alguma coisa com um homossexual. "Já rolou também e aí foi péssimo. Ficava sempre faltando alguma coisa, sabe? Não é a praia dele", revela.
Nem lá, nem cá
Diante de uma situação nova, a reação natural é sentir o bom e velho medo do desconhecido. Não sabemos como agir, como abordar o tema. Quando descobriu que o garoto que estava paquerando era bi, a profissional de moda Denise O., 29, tomou um susto. "Uma amiga me garantiu e eu fiquei boba. Comecei a prestar mais atenção no que ele falava e percebi que ele tinha dado vários sinais que eu tinha deixado passar. Mas não tive coragem de tocar no assunto", diz ela, que deixou o sujeito à vontade para falar se quisesse. "E ele falou. Sutilmente, mas falou. Eu preferi não comentar nada, não sabia o que dizer, mas a minha curiosidade sobre ele só aumentou", conta ela, que ainda não ficou, mas não vê a hora de ficar. "Sinto que ele não tem travas na cama, que gosta de experimentar, de realizar seus desejos e fantasias. Isso tudo é muito atraente", acha.
Segundo o diretor do Instituto Paulista de Sexualidade e Psicoterapeuta Sexual, Oswaldo Rodrigues Jr., saber que o possível parceiro é bissexual pode ser difícil de administrar. "Pensar no homem como bissexual conduz, de forma forte, a considerar o outro homossexual. Na nossa cultura é difícil conceituar a idéia de que uma pessoa pode desejar, indistintamente, mulheres e homens", explica o sexólogo, lembrando que aprendemos, desde infância, que somente existem duas categorias - desejar homens e desejar mulheres. Portanto, surge uma descrença imediata sobre esta condição. "O mundo não a ensinou às mulheres o que fazer nesta situação. Por isso, a maioria parece que reagiria afastando-se, uma vez que a traição por outro homem parece ser mais doída", esclarece ele.
Quando o interesse da mulher persiste mesmo depois da descoberta da bissexualidade, Dr. Oswaldo afirma que ela pode acreditar que vai conseguir transformar o bi em hetero. "Ela poderá se designar como aquela heroína que conseguirá fazer com que este homem seja ‘homem'. Por outro lado, ela pode também sentir-se curiosa sobre como um homem que tem experiências homossexuais reage na cama. Uma pressuposição socialmente aceita é de que homossexuais masculinos são mais ‘sensíveis'", considera, acrescentando que nem sempre a curiosidade mantém-se além de um início de aproximação com algumas experiências.
Para o sexólogo, uma das dificuldades no relacionamento com um homem bissexual é administrar o ciúme. "Os problemas relacionados a ciúmes, infidelidade e traição mais
que duplicam. Afinal, os homens usam os mesmos banheiros, os mesmos vestiários. Se o relacionamento basear-se na fidelidade, o homem está se dispondo a deixar de ser bissexual, está predispondo-se a ser exclusivamente heterossexual. Isto é viável, embora isso não seja assim tão comum", finaliza.