Porque os homens traem
Em nossa busca por entender, mesmo que precariamente o comportamento do homem, podemos perceber alguns dos motivos que levam um homem a trair. Claro que não são só estes, mas elencarei aqui apenas os cinco mais óbvios, ao menos para mim.
1. Homens separam sexo de amor
O modo como nos relacionamos com o strogonoff diz muito
Homens e mulheres funcionam de maneiras diferentes. É comum que as mulheres associem fortemente relações sexuais com desejo. E desejo com amor. Logo, para muitas mulheres, sexo e amor são como um prato de strogonoff.
A base do strogonoff é a mistura de creme de leite com molho de tomate. Se separar os dois, o que é virtualmente impossível, o strogonoff deixará de ser strogonoff, passando a alguma outra coisa qualquer, sem forma, sem nome.
Entramos no perigoso terreno de explicar o amor. E qualquer cara mais bobo do que eu sabe que o amor não se explica. Então vou dar uma malandra desviada deste terreno arenoso, pegando um atalho e limitando-me a comentar que o conceito de amor foi sendo construído ao longo do tempo. E não necessariamente é o mesmo em todas as culturas e, principalmente, em todos os gêneros.
O homem vê o mundo com uma visão mais simples. Ele separa o amor do sexo com extrema naturalidade. É como arroz com feijão. Misturado é bom, mas separado, dá pra comer tranqüilamente.
Entender que o homem está num processo contínuo de evolução que começou lá atrás, no alto das árvores, ajuda na percepção de que os laços afetivos – logo, mentais – não estão intimamente associados quanto os laços corporais, carnais. Afinal, são milhões de anos procurando amantes no mato. Isso não se resolve do dia para a noite.
Para o homem traído, a traição provocada pela sua parceira dói, porque ela é emocional e carnal, além de funcionar pra ele como um atestado de incompetência como macho, como já falei antes.
2. Homens traem para se sentirem vivos
O começo é um paraíso
A cena clássica começa com uma gravata apertada e um belo vestido branco com véu e grinalda. O padre abençoa a união e exige das duas partes envolvidas uma declaração pública, com testemunhas aos montes, de “ser fiel, amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, seguindo amando e respeitando, até que a morte os separe”.
O peso desta declaração é incomensurável. Eu tenho um curioso mecanismo mental que apagou completamente esta parte das minhas memórias. Sou míope e me casei sem óculos. Já percebi que quando eu vejo sem óculos, esqueço as coisas bem mais rápido. Isso foi bom, porque viver cada dia pensando na obrigação de amar até morrer é dose. Verdade.
Falando sério, se a gente der uma boa olhada neste juramento, entendemos porque os padres não casam.O peso de jurar que amará até o fim da vida é um fardo bem grande para uma pessoa normal carregar.
Mas são os ritos sociais e não desviamos deles, pois para muitos homens, com o passar do tempo, aquela verve instintiva de ser o rei da montaha, de ser o alpha garanhão, o cachorrão comedor, se esvai e só o que sobra é um fantasma.
Um fantasma resignado a uma vida cotidiana que com o passar do tempo, vai perdendo a graça.
O fato é que a vida é como um roteiro holywoodiano, cheio de mistérios e reviravoltas, e nem o mais criativo dos roteiristas se compara ao destino. Um dia, o sujeito descobre uma mocinha no trabalho, ou então no supermercado, ou então no elevador…
A chance se apresenta diante dele com toda sua majestade. É uma coisa rápida, um gracejo, um sorriso, um olhar que diz tudo. Aquele sujeito derrotado, conformado e omisso, experimenta uma nova sensação. Uma seiva mágica volta a correr-lhe as veias. Ele sente-se bem. Ele trairá para sentir-se vivo.
Para sentir-se como era no passado, na juventude. Ele trai porque esta traição nega, inconscientemente, o fator inexorável da morte.
3. Homens traem por auto-afirmação
Um homem sai com os amigos. Vai num bar conversar, contar piadas, blasfemar. Somos criaturas sociais. Salvo raras exceções, não vivemos bem sem ter amigos para conversar.
Numa dessas saídas, uma mulher se insinua. O cara tem uma namorada. Não quer trair, mas a garota se insinua com tamanha intensidade e interesse (inconscientemente identificando nele um macho alpha entre seus pares e exercendo uma nova sensação: a de caçar) que ele acaba sucumbindo e, inconseqüentemente, trai.
Ele poderá argumentar mentalmente que apenas teve um leve affair com a moça e que aquilo foi apenas carnal, não estando, portanto, quebrando nenhum laço emocional. Na mente do homem, é possível que só um envolvimento absolutamente emocional, como a paixão constituiria uma traição real.
É mais ou menos assim que opera o mecanismo de relacionamento entre casais que trabalham na indústria da pornografia, onde fazer sexo é apenas um trabalho e nada mais.
A grande maioria dos homens que traem como resultado direto das circunstâncias da vida (condição ambiental conjugado com o interesse de uma parceira e sensação de anonimato) o faz por auto-afirmação. Vivemos numa sociedade machista e desde sempre os homens são ensinados a ter um comportamento de “macho”.
Frases como “homem não chora” e os lemas paternos: “ prenda sua cabrita que meu bode tá solto” são as máximas que regem a vida de muitos homens. Assim, é incompreensível ver uma mulher dando o maior mole e ele não aproveitar. Se assim ocorrer, ele será visto pelos seus pares – e pior, por si mesmo – como um fraco, até mesmo um homossexual.
Miniflashback por favor!
Estamos no passado. Os macaquinhos estão nas árvores. Uma fêmea, percebendo que o macho alpha está distraído, se oferece, virando o traseiro rebolativo para um macaco que contemplava o vazio. O macaco arregala os olhos, pensando que ganhou na loteria. Ele se anima e parte para cima dela. Vai tentar mandar ver na macaquinha safada quando o macacão Alpha, o chefão do grupo, saca que vai levar um belo enfeite de testa e enfia a pancada em ambos.
Agora, aquele macaco beta vai morrer de medo quando uma macaquinha safada virar-lhe o traseiro novamente. Ele é um beta. Beta não come ninguém. É um fraco.
Voltamos ao nosso amigo na boate. A moça se esfrega voluptuosamente nele, e mesmo que ele busque em suas memórias a lembrança de sua parceira inocente, o olhar de avaliação de seus pares, somado com sua percepção de si mesmo, vai empurrá-lo para a situação conflitante de ficar com a garota. Mesmo que todos seus neurônios digam que é burrice.
O homem em geral tem graves problemas de identidade. Muitos de nós medimos nossa masculinidade pelo quanto sabemos. Pela nossa inteligência. Pelo quão hábeis somos em nosso trabalho, pelo quão esportivos somos no futebol, pelo quanto dinheiro temos. Ou pelo tamanho de nosso pênis.
A massa dos homens se mede pelo trabalho. Gonzaguinha sintetizou este pensamento com maestria na frase “…E sem o seu trabalho o homem não tem honra, e sem a sua honra, se morre, se mata”.
Com uma identidade individual problemática, somos vítimas das circunstâncias. Precisamos afirmar para nós mesmos quem somos a todo tempo. E para os machos alpha isso é ainda pior. O macho alpha precisa irradiar seu efeito alpha. Demonstrar sua superioridade. Precisa mostrar-se melhor o tempo todo. E se “ser melhor” significar pegar toda mulher que der chance, ele assim o fará. É o destino. É a natureza.
4. Homens traem por desejo de sair da relação
É como já falei. O homem cresce com problemas com sua auto-imagem. Cresce num ambiente que o obriga a ser muitas vezes uma coisa que ele não é. Cresce cercado de expectativas que precisa preencher. Muitos homens têm dificuldade em expressar suas emoções, se abrir.
O mundo está cheio de homens que procuram prostitutas para conversar sobre problemas pessoais e profissionais que não têm coragem de contar a suas mulheres. Quase toda prostituta já viu um desses.
É normal que homens fiquem em relações infelizes por comodismo. É uma coisa detestável, eu sei. Mas acontece. Nisso, o homem violenta seus desejos, “violenta” a mulher, “violenta” os filhos. É uma família inteira que fica doente. A família é um sistema. Um sistema que está ligado em outros.
E a doença se reflete, ecoando pela sociedade, porque este camarada infeliz em casa levará a infelicidade com ele para onde for. A mulher idem, os filhos apresentarão todo tipo de problema, como ficar doentes ou afundar na escola como um modo de chamar a atenção. A família se desestrutura e é uma brecha perfeita para as drogas e a degradação.
A traição neste caso funciona como o escape da pressão. É natural que em situações como esta, uma traição dupla ocorra. É comum também o caso das famílias duplas, com o homem não tendo coragem suficiente para encerrar o relacionamento falido, seja por pressão social ou afetiva, vai levando aquele lar em conjunto com outro.
Isso gera casos comuns em que a esposa só descobre a outra família do sujeito no dia do velório dele.
A traição pode funcionar para o homem como uma saída. Dessa forma, quando ele não consegue ser suficientemente corajoso para enfrentar o sofrimento, ele pode buscar numa traição cheia de percalços e frustrações, a saída final.
O cara não quer acabar com a relação. Ele torna-se vítima de sua própria atitude, expondo a parceira ao escárnio social. A mulher, vendo-se pressionada pela família, amigos e sociedade, é forçada a tomar a decisão de separar-se do homem como única maneira de preservar sua honra.
E fará isso, mesmo que ainda ame o sujeito fraco, só para salvar as aparências. Não tendo peito para largar a própria mulher, o sujeito torna a vida a dois tão insuportável a ponto da mulher tomar a iniciativa por ele.
5. Homens traem por vingança
O homem pode querer trair como forma de se vingar de uma mulher. A sensação de ser traído para o homem tem um peso forte e é algo capaz de derrubar a auto-estima do mais egocêntrico dos seres.
A vingança masculina é impiedosa
Buscar uma outra mulher para “dar o troco” na amada é algo comum em homens inexperientes e jovens. Um homem pode se vingar traindo a parceira por motivos ridiculamente banais. Já vi amigos resolverem trair as namoradas apenas pelo fato delas terem ido ao “clube das mulheres” com as amigas.
Para o homem, a mera imaginação de que sua parceira obteve uma migalha sequer de desejo por um outro macho é insuportável. E no clube das mulheres, o padrão de macho é o padrão de perfeição máscula do inconsciente coletivo masculino: sujeitos altos, fortões, com queixos quadrados, físico de marombeiro e sexo de dimensões avantajadas. Tão avantajados como jumentos.
Este pensamento corrói o homem por dentro. É um fantasma. O cara começa a delirar que a mulher subiu no palco, que acariciou o membro “gigante pela própria natureza” do galalau e dançou aquela sensual rebolada com o cara lá… Por mais que sua mulher diga que apenas assistiu sentada o show, ele terá total certeza que ela mente para encobrir seu outro lado. Sua outra face.
Este cara, que divide todas as mulheres do mundo em dois grandes grupos (santas e putas) vai se desesperar. O cara ficará transtornado e obcecado pelas próprias idéias.
Resolve sair pegando geral para “restituir sua honra, supostamente perdida ou arranhada” o que nos leva de volta ao tipo de traição número 3, e dar o troco na mulher.
No fundo, no fundo, tudo está diretamente atrelado a fraca auto-imagem que o homem tem de si mesmo, associado com ilusões sobre as expectativas que a sociedade constrói ao seu redor. Quem são os heróis masculinos? Como eles se portam? Os galãs das novelas das sete costumam refletir um idealismo popular do homem primal, fortemente sexual.
Não é a toa que as novelas das sete, na TV Globo, são marcadas por histórias nas quais os homens estereotipados trocam de parceiras a cada capítulo. E isso continua a se perpetuar na sociedade. Veja por exemplo em Shrek. Neste filme voltado ao público infanto-juvenil, um feioso ogro se vê às voltas com uma bela princesa apaixonada por ele.
Tudo parece contrariar o princípio do idealismo masculino. O feio ogro vai pegar a gatinha princesa. Mas… Opa! A princesa vira uma Ogra! Ah, agora sim. Feios com feios. E viva a igualdade.
Shrek reforça o ideal socialmente aceito de que só os “heróis” têm o direito de se darem bem. O que sobra é a lição de que só se é feliz sendo herói. Ou macho alpha.
Hoje em dia, está cada vez mais difícil viver uma vida a dois sem trair. Isso se deve a diversos fatores. Um deles, e talvez o mais curioso, seja a liberação sexual feminina. A mulher conquistou bastante espaço nas últimas décadas.
Elas são cada vez mais e ganham cada vez melhor. Estão em todos os mercados e querem mais. O tempo em que as mulheres eram passivamente escolhidas já se foi. Hoje elas escolhem e vão à caça como os machos sempre fizeram. Isso assusta alguns homens mais tradicionais.
Mas o resultado prático é que a liberação sexual acontece cada vez mais cedo, e as meninas estão partindo para cima, chegando nos garotos e propondo coisas que suas avós nem sonhavam em falar com os maridos.
Outro fator que potencializa isso é que existem mais mulheres que homens. Principalmente nos grandes centros urbanos. Mais mulheres que homens significa uma disputa clara pelos machos. Entenda esta disputa como uma guerra por roupas sensuais, atitude, maquiagem.
E não só isso. Há também o golpe da barriga pra segurar o cara. As armas femininas clássicas. Com menos homens, uma mulher acaba tendo que tirar o homem que deseja da outra.
A tecnologia deu um empurrãozinho nas coisas. Antigamente, quando eu era guri, se um menino gostava de uma menina, ele tinha que se expor suficientemente para ser notado. Precisava pegar na mão da menina. Precisava se arriscar.
Eventualmente para os mais tímidos, como eu, não havia lugar ao sol. O que nos obrigava a desejar meninas impossíveis. Eu perdi a conta de quantas cartinhas de amor e bilhetinhos eu mandei para algumas meninas cruéis que só fizeram me zoar.
Hoje é o tempo do “já é ou já era?”. Existe MSN, existe Orkut, existe email e mais um monte de outras maneiras tecnológicas de uma aproximação sem risco. As meninas estão sendo educadas pela Tv, seja em maior ou menor grau. Isso está afetando diretamente o comportamento delas com os meninos.
No meu tempo, convinha às meninas ter receio dos garotos. As meninas e meninos não brincavam juntos. Falar com uma menina era cruzar um enorme abismo social. Sabe o Calvin, o menino que tem um tigre imaginário?
Calvin e sua relação de amor e ódio com Susie, a vizinha e colega da escola, reflete esta dualidade, vivida naturalmente pelo autor Bill Waterson na sua infância. É o retrato de uma época. Eu vivi isso.
Os meninos de hoje convivem com as meninas de modo muito mais natural. E isso é ótimo.
Não há nada de mal em conhecer pessoas. A prova disso é a enorme quantidade de relacionamentos virtuais que algum dia acabam se tornam reais.
O problema é que a aproximação mais fácil e com as relações mais próximas (não necessariamente mais francas) o assédio aumentou.
A traição em si, no contexto direto da palavra, não precisa estar associada a fazer sexo com outro que não seja o parceiro oficial. O termo adquire conotações de maior ou menor extensão de acordo com quem o utiliza, e claro, com que objetivo.
Tenho amigas que consideram traição o parceiro ver mulher pelada na Internet.
Qualquer pessoa que navega na Internet por algum tempo sabe que é extremamente difícil passar incólume à pornografia digital.
Então, na ótica da parceira, este cidadão, coitado, é um traidor contumaz. Mulher pelada em revista dá no mesmo? E encarte de sutiã?
E assim, a relação começa a virar um jogo de baseball, cheio de regras esquisitas.
Se por um lado tem aquelas mulheres hiper-possessivas que vigiam o celular, o email e tornam-se exímias futicadoras no histórico do MSN, lixeira e arquivos temporários do Explorer, existem por outro lado, os relacionamentos chamados “abertos”.
Confesso que relacionamentos assim são meio misteriosos para mim. Os dois lados admitem ter aventuras extraconjugais e ainda assim continuam juntos. Complexo.
Uma receita potencialmente explosiva quando entre um dos dois está alguém ciumento ou possessivo. Ainda mais curioso, são os casais “liberais”. Geralmente o termo casal “liberal” é mais amplo no sentido da sacanagem do que o do casal “aberto”. No senso comum, casal liberal também pode ser conhecido como casal “libertino”.
Neste caso, o casal opta por uma saída a dois para a realização de desejos sexuais mútuos. Existem casas e ambientes específicos para ménage e troca de casais. Muitas vezes, isso acaba se resumindo em sexo na coletividade.
Uma vida conjugal nesta estrutura de relacionamento é bastante difícil. A confiança deve ser mútua e forte suficiente para que não haja possessividade. O casal liberal tem que viver sob a égide de que existe sexo sem amor. Do contrário, isso não funcionaria.